Por que meu filho não aprende?

terça-feira, setembro 15, 2015

Em nossa sociedade, damos muito valor ao aprendizado e àquilo que as pessoas são capazes de fazer. Dessa forma, quando encontramos uma criança que não apresenta um desempenho esperado (notas, comportamentos, etc.), surge uma grande preocupação.
A aprendizagem é o resultado de uma série de fatores, como aspectos biológicos, sociais e emocionais 3,4. E, da mesma forma, a razão pelo qual uma criança não aprende pode estar relacionada a um ou vários destes fatores.
Classificamos como problemas de aprendizagem dificuldades que uma criança ou adulto apresenta em compreender um determinado conteúdo ou tarefa 3. Todos passamos por momentos de dificuldade na vida escolar, mas estes são facilmente resolvidos por um maior tempo de dedicação à matéria ou uma leve adaptação na didática oferecida. Os que apresentam dificuldades maiores não conseguem reverter a situação tão facilmente e, muitas vezes, passam por longos períodos de recuperação e reprovação até “descobrirem” o que realmente os impede de aprender.
A dificuldade de aprendizagem é definida como sendo a presença de um fator que impede a criança de absorver ou demonstrar o conteúdo ensinado 2. Diferentemente do transtorno ou do distúrbio de aprendizagem, tal fator é possível de ser “retirado através de uma série de medidas e o ensino da criança é continuado sem maiores modificações. A dificuldade pode estar associada à problemas emocionais, ambiente não favorável ou provação de ensino 3. Além disso, pode aparecer em qualquer momento da vida do sujeito.
Já o transtorno ou distúrbio de aprendizagem é caracterizado pela presença (desde a infância) de um fator neurobiológico que altera o aprendizado da criança 1. Aqui, os problemas comportamentais e emocionais são consequências dos prejuízos e não a causa. Na maioria dos casos, a “retirada” desse fator não é possível (é apenas amenizada) e, para que a criança aprenda, uma série de adaptações na forma de ensino e avaliação (além do uso de medicação em alguns casos) são necessárias 2.
Em ambos os casos, compreender a multiplicidade do processo de aprendizagem se faz necessário para que a criança receba a ajuda que precisa. E quando se falo em ajuda, digo orientações voltadas não só para melhoria da aprendizagem, como o manejo comportamental e emocional, já que boa parte das dificuldades e dos transtornos geram prejuízos para além da dimensão cognitiva 4.
Somos, ainda, acostumados a achar que a dificuldade apresentada por uma criança é “falta de interesse”, “falta de esforço”, “preguiça”, “vagabundagem” e tantos outros termos que colocam sobre a “vontade” da criança toda a responsabilidade pelo seu aprender. Afinal, o senso comum nos diz que “só não aprende quem não quer!”; contudo, para uma grande parcela da população, o aprendizado não depende apenas do querer, mas de uma série de informações, compreensão e, principalmente, adaptações que tornem possível o seu aprender.
Assim, se o seu filho não está conseguindo aprender, procure investigar o motivo. Converse com a criança sobre as dificuldades (procure escutá-la sem criticar) com os professores (procure tanto aquele que a criança vai bem, quanto aquele que a criança vai mal); avalie a metodologia de ensino adotada pela escola (nem toda metodologia é benéfica para o estilo de aprendizagem da criança), avalie o clima familiar e procure por profissionais, como o corpo pedagógico da escola, psicólogos e pediatras.
Esses profissionais irão auxiliar na identificação e compreensão da dificuldade da criança, fornecendo informações que poderão ser utilizadas na elaboração de um plano de ensino adaptado às necessidades da criança. Em muitos casos, a lista de profissionais a serem procurados pode ser extensa, mas algumas dificuldades precisam de um olhar multidisciplinar para serem melhor avaliadas e/ou trabalhadas.
"Toda criança é capaz de aprender, nós só precisamos descobrir qual é a melhor forma para cada um!".
Nas próximas postagem irei falar sobre alguns dos tipos mais comuns de problemas de aprendizagem.
Referências:
1 APA (2014) Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM V. Porto Alegre: Artmed. 2 CIASCA, S. M. (2003). Distúrbios e dificuldades de aprendizagem: questão de nomenclatura. In: CIASCA, S. M. (Org.). Distúrbios de aprendizagem: proposta de avaliação interdisciplinar. São Paulo: Casa do Psicólogo, pp 19-31 3 JOSE, E. A. & COELHO, M.T. (2010) Problemas de aprendizagem. São Paulo: Ática 4 SMITH, C. (2001). O que causa as dificuldades de aprendizagem? In SMITH, C. Dificuldades de aprendizagem de A a Z. Porto Alegre: ARTMED Editora, pp 20 – 37.

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